ROSELY SAYÃO
Por que tanto desespero? Saber
ler, escrever e contar antes dos seis ou sete anos não quer dizer nada.
RECEBO MUITAS, muitas perguntas e
dúvidas de pais que têm filhos com seis anos, mais ou menos. Várias mensagens
chegam em tom quase desesperado. O motivo? O processo de alfabetização dos
filhos.
Vamos tentar acalmar esses pais
com alguns esclarecimentos importantes para que, um pouco mais tranquilos, eles
não pressionem tanto seus filhos.
De partida, é bom avisar: a
criança tem tempo de sobra para se desenvolver nesse processo. Qual o prazo? No
ensino fundamental, com duração de nove anos, esperamos que a maioria dos
alunos esteja alfabetizada ao final do segundo ano.
Por isso, caro leitor, caso o seu
filho esteja no primeiro ano, pode relaxar. Ele ainda tem pelo menos um ano e
meio para se aprimorar no processo da leitura, primeiramente, e escrita.
Acontece que muitos pais foram
convencidos pela sociedade de que é melhor a criança aprender o mais cedo
possível a ler, escrever e trabalhar com números. Não é.
Já temos inúmeros estudos e
pesquisas apontando que crianças precocemente introduzidas no ensino formal não
se mostram, no futuro, mais avançadas nos estudos. Além disso, até demonstram
menor curiosidade pelos estudos e menos criatividade nos trabalhos escolares do
que suas colegas que se dedicaram a brincar nos anos da primeira infância.
Tem mais: as crianças massacradas
por escolas e famílias para a vida escolar no estilo acadêmico antes dos sete
anos desenvolvem mais doenças resultantes da ansiedade e da pressão, tais como
estresse, desatenção, distúrbios alimentares e do sono, entre outras.
Veja, caro leitor, o resultado
dessa ideia que a sociedade desenvolveu nos pais. Uma leitora, que coloco no
grupo dos pais desesperados, conta que mudou de cidade e sua filha, matriculada
no primeiro ano, já sabia ler e escrever muitas coisas. Mas agora, na
transferência de escola, parece que regrediu e se esqueceu de muita coisa que
havia aprendido.
O que nossa leitora não percebe é
que, se a garotinha esqueceu, é porque não havia aprendido. Talvez tivesse sido
treinada, condicionada ou coisa que o valha a escrever e ler algumas palavras.
Quem se alfabetiza com sentido, ou seja, quem entende primeiramente a função
social da leitura e da escrita, não se esquece com essa facilidade.
Outra mãe que tem a filha também
no primeiro ano me escreveu reclamando da escola, por ter enviado muitas lições
para serem feitas nas férias. Mas, de quebra, contou que a filha leva duas
horas diariamente fazendo lições de casa e, três vezes por semana, ainda faz
acompanhamento psicopedagógico por indicação da escola, por apresentar
"dificuldades na alfabetização".
Fico penalizada com a vida que
essa menina (como muitas outras) está levando. Quando será que ela brinca?
Brincar é uma coisa que, até os seis anos, a criança deveria fazer o tempo
todo.
O ensino formal de leitura e
escrita e o trabalho com números podem ser iniciados aos sete anos sem prejuízo
algum para a vida escolar futura dessas crianças. Por que tanta pressa? Saber
ler, escrever e contar antes dos seis, sete anos não significa absolutamente
nada.
O que significa muito no futuro
desenvolvimento do chamado processo de letramento é a criança aprender, desde
bebê, o prazer da leitura. Contar histórias para ela, dar livros bonitos para
ela brincar e "ler", conversar bastante com ela para que amplie seu
vocabulário, ouvir com atenção as histórias que ela gosta de contar e brincar
com os sons das palavras são alguns exemplos de como os pais podem ajudar no desenvolvimento
de seus filhos.
Mas sem pressão, por favor! As
crianças agradecem.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora
de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)
Reprodução
site:http://www.folha.uol.com.br/
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